André Guanabara André Guanabara

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30/06/2025

Marcadores laboratoriais de inflamação metabólica e impacto na resistência insulínica e emagrecimento

A inflamação subclínica de baixo grau é reconhecida como fator central na fisiopatologia da resistência insulínica e na dificuldade de perda ponderal. Esse estado pró-inflamatório persistente, frequentemente assintomático, resulta da interação entre adipocinas, citocinas inflamatórias, disfunção mitocondrial e alterações no eixo neuroendócrino.

A avaliação laboratorial de biomarcadores indiretos auxilia na estratificação do risco metabólico e permite intervenções precoces na prática clínica.

Proteína C reativa ultra-sensível (PCR-us)

A PCR-us, como marcador de fase aguda, reflete ativação do sistema imune inato. Elevações discretas (acima de 0,3 mg/dL) estão correlacionadas com aumento da lipólise desordenada, maior infiltração macrofágica no tecido adiposo e piora da sensibilidade insulínica, além de estarem associadas a maior risco cardiovascular e progressão de aterosclerose subclínica.

Ferritina sérica

A ferritina elevada (>150 ng/mL), além de seu papel como proteína de armazenamento férrico, atua como marcador de inflamação hepática e resistência insulínica hepática. Sua elevação é frequentemente observada em pacientes com esteatose hepática não alcoólica e disfunção metabólica associada.

Homocisteína

Concentrações elevadas de homocisteína (>10 µmol/L) contribuem para disfunção endotelial, estresse oxidativo vascular e inflamação sistêmica. A elevação desse aminoácido sulfídrico compromete a biodisponibilidade de óxido nítrico, além de exercer efeito pró-trombótico e pró-aterogênico, agravando a disfunção metabólica.

Vitamina D

A hipovitaminose D (<30 ng/mL) possui relação direta com disfunção do eixo HPA, alteração da resposta imunomodulatória e prejuízo da sinalização insulínica. Sua deficiência amplifica o estado pró-inflamatório e impacta negativamente o metabolismo energético mitocondrial.

Insulina de jejum

A hiperinsulinemia basal (>10 µUI/mL) representa fase inicial da resistência insulínica compensatória. A exposição crônica a níveis elevados de insulina mantém o estado anabólico persistente, favorece o acúmulo de tecido adiposo visceral e perpetua o ciclo inflamatório metabólico subjacente.

Abordagem clínica integrada

A análise conjunta desses biomarcadores permite ao clínico delinear o grau de inflamação metabólica ativa e estruturar condutas de intervenção precoce. Estratégias terapêuticas incluem modulação dietética anti-inflamatória, correção de micronutrientes deficitários, manejo farmacológico quando indicado, além da prescrição de exercício físico periodizado visando reversão da resistência insulínica e controle do estado inflamatório.
A identificação precoce da inflamação metabólica oferece não apenas maior efetividade nas estratégias de emagrecimento, como também impacto preventivo sobre as comorbidades cardiovasculares e degenerativas associadas à síndrome metabólica.