30/06/2025
Sono e emagrecimento: mecanismos neuroendócrinos e impacto na composição corporal e metabolismo energético
O sono exerce função central na regulação metabólica e composição corporal, atuando diretamente na homeostase energética, controle glicêmico e equilíbrio neuroendócrino. Distúrbios do sono, tanto em quantidade quanto em qualidade, alteram múltiplos eixos hormonais associados à resistência insulínica, acúmulo adiposo visceral e prejuízo da performance metabólica.
Ativação do eixo HPA e elevação sustentada do cortiso
A privação de sono ativa cronicamente o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), elevando os níveis basais e pulsáteis de cortisol. A exposição crônica ao cortisol elevado induz redistribuição adiposa central, favorece proteólise muscular, compromete a sensibilidade insulínica hepática e exacerba o risco de resistência insulínica progressiva.
Supressão da leptina e hiperatividade da grelina
O déficit de sono reduz a secreção de leptina, hormônio anorexígeno derivado do tecido adiposo, ao mesmo tempo que eleva a grelina, peptídeo orexígeno secretado pelo estômago. Este desequilíbrio promove hiperfagia, aumento da ingestão calórica, maior consumo de carboidratos de alto índice glicêmico e consequente dificuldade na restrição calórica sustentada.
Comprometimento da secreção de hormônio do crescimento (GH)
A fase de sono profundo (estágio N3) é responsável pelo maior pico fisiológico de GH em adultos. A fragmentação do sono reduz essa secreção, prejudicando a lipólise, manutenção da massa muscular e recuperação tecidual pós-exercício, impactando negativamente a composição corporal.
Aumento de mediadores inflamatórios pró-insulínicos
O sono inadequado eleva a produção de interleucina-6 (IL-6), fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e proteína C reativa (PCR), todos associados à inflamação metabólica de baixo grau. Essa resposta inflamatória perpetua o quadro de resistência insulínica, altera a função mitocondrial e reduz a flexibilidade metabólica.
Alterações na variabilidade glicêmica e controle energético
Pacientes privados de sono apresentam maior variabilidade glicêmica e menor capacidade de estabilização pós-prandial da glicose, favorecendo hiperglicemia intermitente e disfunção mitocondrial progressiva, mesmo sob déficit calórico.
Importância clínica da otimização do sono no manejo metabólico
A abordagem do sono como pilar terapêutico no manejo da obesidade e resistência insulínica deve incluir investigação de distúrbios respiratórios (apneia obstrutiva), insônia primária, avaliação de higiene do sono e modulação nutricional complementar. A restauração da arquitetura do sono profundo potencializa a eficiência dos protocolos de emagrecimento, melhora a resposta hormonal e reduz o risco de descompensação cardiometabólica crônica.